Reflexões de um Isekai imperfeito
Basicamente, estava pensando sobre uns isekais que misturam Fantasia, com Administração de Reino/Vila/Cidade e quase que um Passo a Passo de como lidar com uma situação difícil. Apesar de existir um conflito, geralmente quando chega na hora do "vamô ver", geralmente segue com alguns espaços de quadrinho explicando exatamente o fluxo de pensamento.
Não que isso seja ruim, por favor, explique tudo para entendermos bem o que que tá acontecendo.
Só que tudo isso parece um tanto "natural" até demais, como se já estivesse sendo esperado. Ou, ficando subtendido que o Protagonista é muito inteligente e estrategista com o que faz.
Eu entendo que a receita de "Conflito" e "Conflito sendo Resolvido Perfeitamente" é algo muito prazeroso de se ler, e é assim que algumas histórias se desenrolam mesmo. Talvez um dos motivos das pessoas gostarem delas é exatamente esse ponto de: "Deu certo meu, foi fácil até, nosso Protagonista é mesmo genial!".
E eu sou uma dessas pessoas, afinal, acompanho Overlord e ler histórias assim é uma das razões de estarmos lendo por diversão... Mas tenha em mente que coerência e conflitos bem feitos são muito importantes para uma história.
... Mas e histórias em que o Protagonista e seu elenco não conseguem progredir? Ou que precisam fazer escolhas muito difíceis? (ah vá).
Imagine uma história que nosso Protagonista acaba por virar um Príncipe Herdeiro que ascendeu ao trono pois o Rei faleceu devido a uma doença que está assolando o Reino. Só que nosso Protagonista é Protagonista por algum motivo, então vamos dizer que ele é um Cientista-Pesquisador-Biológico-Médico (Criatura moderna super entendida escrevendo agora), que consegue fazer um resumo da doença, mas descobre que a doença é uma variante que ainda precisa ser estudada.
E que precisa de vacina. E isolamento social.
Então, temos um governo que parcialmente entende as medidas que devem ser seguidas para curar o Reino, e a outra parte são nobres e plebeus anti-vacina... Por quê? Crenças? Medo de tomar vacina? Favoritismo para com pessoas que se vendem como a Salvação sendo que não tem nenhuma base? ¯\_(ツ)_/¯ Tudo isso junto e misturado.
Parênteses: Sim, eu sei que existe a obra "Parallel World Pharmacy"(Isekai Yakkyoku), entretanto temos o fator de que magia existe.
Não que seja ruim, eu adorei a obra e claaaaro que o fato de ter magia para fazer a obra ficar mais fantástica e interessante é bem legal, e ainda elementos de batalha e defesa. De fato, todo o lance do Protagonista ser OP faz com que você fique feliz que tudo se resolva. (Spoilers) Mesmo combinando a alma de um Doutor reencarnado com a magia de criar elementos (que ele estudou, olha só Química sendo importante), agilizando o processo do Protagonista para atualizar os métodos científicos ultrapassados com os modernos; o conflito dele ser um garotinho junto com "O que esse moleque está tentando fazer, contradizendo os médicos do reino?", ainda assim é interessante de se acompanhar.
Entretanto, o personagem Farma é mais "Faz-Tudo", jovem nobre, não-realeza. (Sim, eu sei que spoilers e mais spoilers acontecem, mas ainda assim ele precisa responder as ordens da Rainha. Ele faz bastantes coisas e causa mudanças? Sim, mas vamos voltar pra onde eu estava tentando dizer...)
... Onde eu estava mesmo?
Ah, sim.
Esqueça tudo o que eu falei! Ou não, caso se interessou, vai ver "Parallel World Pharmacy", é legal.
Mas sim, esqueça tudo o que falei!
Voltamos ao nosso Protagonista Príncipe Herdeiro que agora jogaram a coroa no colo dele em um Reino sofrendo uma Pandemia com divisão de poder.
Por mais que eu goste de Conflitos serem resolvidos de maneira que não tenha nenhuma perda, ou quase nada de perdas, eu imagino...
Ele é apenas alguém normal. Em um mundo sem magia, sem milagres, a solução depende da boa vontade das pessoas e a educação que elas tem. Além é claro, do carisma do agora Recém Nomeado Rei em ordenar seus súditos a fazerem suas tarefas.
Imagino agora que seria na verdade bem maçante ter que passar por um arco longo de tentar ganhar o coração dos súditos sem encurtar para terminar em tipo, 1 episódio.
Exemplos de Protagonista ganhando o coração dos nakamas em 1 episódio*: Tsuna com Gokudera em Katekyou Hitman Reborn, Iruma e Alice em Mairimashita Iruma-kun! E menção honrosa para todos os Guardiães da Tumba de Nazarick em Overlord.
... Tudo bem que esses exemplos são mais "Ah, esse é o braço-direito do Protagonista que ele pode contar que vai acreditar cegamente". Parando para pensar, o próprio recrutamento dos Guardiães de Tsunayoshi é um arco feito aos poucos, em poucos episódios, hum...
Okay, o que eu quis dizer é: Nossos personagens secundários que claramente vão ser os amiguinhos até o final dos tempos (O que? Alguém traiu o grupinho? Que reviravolta!!!) vão ser fisgados facilmente pelo Protagonista por motivos iguais ou senso de justiça parecida. Ou par romântico.
Agora, imagine um Protagonista que tem o que? Um gato pingado do lado dele, ou dois, enquanto que o resto das pessoas - mesmo sendo servos - podem não levar as ordens a sério (subestimando o jovem recém nomeado Rei), ou fazendo sem vontade, ou totalmente contra essas ideias avoadas do novo Rei?
Difícil, hum. Mais difícil quando não tem um grupinho para apoiar com confiança o Protagonista, falando com convicção de que ele estava certo, que confiavam nele, para passar a sensação de segurança aos outros servos. Justo agora o Protagonista tem o Reino das costas agora e o que mais precisa é de um sistema operacional funcionando de forma fluída.
Então, mesmo que a cada capítulo o Protagonista resolva algo e colha frutos positivos; a pressão, tendo que persistir em debates com súditos/nobres para seguirem os protocolos de segurança e higiene, além de relatórios negativos com missões e tarefas, tudo isso se acumula e tira o gosto de "tarefa feita", ou "tudo irá dar certo no final".
Interessante? Talvez. Talvez não.
Entretanto, ainda assim, nem tudo é perdido. Existem plebeus e nobres que seguem confiando no Jovem Rei.
E em um momento, ele simplesmente cede.
"Muitos Reinos se empenham em expandir. Entretanto, não vejo motivos para isso nesta situação de crise. Irei dividir o reino, e quem não seguir as diretrizes podem se mudar para a outra parte."
Hahahaha~ Sim. (. ❛ ᴗ ❛.) Mas segure este café e continue lendo.
Claro que isso seria mó rolê horrível e várias coisas dariam muito errado, teria como dividir um reino tão igualmente? E sobre as casas?
Só que como isso é uma história e não uma simulação, as pessoas realmente ficariam animadas para migrar para uma parte do Reino sob a liderança de um Nobre super anti-vacina, digamos que um Duque, dizendo que iria liderar as pessoas ao invés desse Jovem Rei ingênuo que resolveu dividir o Reino em dois.
Pessoas são imprevisíveis e ainda mais relacionamentos entre famílias. Dentro de uma mesma família claramente teria uma divisão de opiniões e discussões sobre qual terra ficar: Na do Protagonista ou do Duque? E quanto a loja e casa deles? Teriam aonde morar caso se mudassem?
Para o bem da obra, por conta da alta mortalidade da doença, vários lugares teriam ficado desocupados do lado do Duque, o que daria para abrigar os novos moradores.
Sob as novas regras do Reinado do Protagonista, que discursou antes e depois da Divisão de Terras sobre como queria guiar seu povo se apoiando nesses métodos de saúde, tudo mudou. Tendo que fechar o coração e carregar essa decisão de que iria salvar várias pessoas e levar a morta várias outras, ele impôs uma segurança na divisão do Reino bastante restrita. Assim como as regras para comercialização e visitas.
O tempo passa, e apesar dos primeiros dias ter sido bastante corrido para prestar atenção - por conta das mudanças -, mas os resultados logo vieram. De um lado Médicos usando métodos questionáveis, do outro Médicos já adequados a um novo sistema de saúde. Enorme diferença entre a ida e vinda de pacientes em hospitais, além de pessoas voltando para as casas antigas.
E com isso, grupos de nobres voltam a ficar em frente ao Jovem Rei, pedindo para que ele unificasse o Reino novamente e que do outro lado várias pessoas estavam perecendo sem a liderança dele. Algo irônico, visto que no tempo da Divisão esses nobres simplesmente aceitaram partir em ficar na parte do Duque, em uma casa de outros nobres.
Entretanto, o Jovem Rei acaba por ainda ficar dividido entre aceitar pessoas que ainda mantinham suas crenças vãs, e salvar elas. Mas, a perda de forças da parte do Duque parecia uma ótima oportunidade para fazer o Jovem Rei ser descrito na História como o verdadeiro Salvador do povo, retirando do poder o falso Salvador - o Duque -, além de unificar o povo e trazer paz para o reino... Ao invés de ser descrito como um Tirano.
O Protagonista volta a pensar nas escolas e professores que recrutou, além dos aliados. E assim, acaba por elaborar o plano para reconciliar o Reino em um só e erradicar a doença.
Insira aqui capítulos destoantes descrevendo canalhas usando da emoção e desculpas para achar uma cura que claramente não está funcionando, até serem tardiamente tirados do cargo, para cenas de médicos e pesquisadores lidando com testes para vacina e professores e instrutores ensinando as pessoas sobre como evitar se contaminar.
De cima do Muro, o Jovem Rei observa o outro lado.
Se o cemitério já tinha sido ampliado antes, agora parecia mais um reino de covas. Segurando o luto enquanto ao mesmo pensa que se essas pessoas que após ouvirem todas as explicações e discurso sobre a doença e preferiram ignorar, iriam sobreviver caso não tivesse separado os reinos.
Então, ele pensa sobre o grupo de pessoas que voltaram para seu lado e mudaram de ideia, seguindo os procedimentos.
Com esses pensamentos na cabeça, o Jovem Rei volta para o castelo, indo se juntar a um jantar para orquestrar a retomada do Reino das mãos do Duque.
Claro que isso pode te fazer lembrar de acontecimentos reais, mas a questão não seria re-reproduzir o que aconteceu, mas sim escrever uma situação semelhante, mas diferente.
No final o filho do Duque acaba por adoecer e os cafajestes não conseguem salvá-lo. O Duque manda enforcá-los e tenta invadir o lado do Rei, cego pela raiva, pensando que tudo aquilo aconteceu porque era o plano do Rei de livrar-se deles, por isso aconteceu a Divisão do Reino. ¯\_(ツ)_/¯
Fim~